Se essas mãos, antes bravas trabalhadeiras, tintadas de carvão e unhas de barro ainda erguessem o copo de pinga nas quitandas da beira de estrada, elas ainda seriam mal lavadas na pinguela e passariam afagantes pelos cabelos das crianças pés de calços.
E se essas mãos ainda se escondessem na beira da lagoa, debaixo da figueira, antes da pesca do fim tarde, para pensar nas mulheres que passam pela estrada rumo ao capão, de vez em quando elas seriam fisgadas no descuido com o anzol.
E se ainda houvesse a pinga, os amigos e os bailes, essas mãos acompanhariam no teclado um Zé, o Zé da Gaita, do mel e das abelhas. O Zé amigo de todos, Zé das mulheres, o Zé nariz, companheiro de noitadas.
Mas, se essas mãos ainda encontrassem nas conversas com os mais velhos o mate, elas se aproximariam do ouvido fingindo limpar a cera que atrapalha a história, só para escutar mais de perto, fazendo concha, o que o Batista falava do morto Chico Canoa, que de resto, deixou só a Canoa sem remos.
Pois essas mãos que foram abrideiras de terra nas plantações, que já plantaram gente e cachorra nesse chão onde só deu cana, não gostavam do melado do pé de moleque por se habituarem a mergulhar no bagaço da cana que as amargava.
Mãos sujas, bravas trabalhadeiras que não se encontravam a muito tempo, nem para se erguerem aos céus, nem para tocarem o chão, unidas às mãos de Marisa partiram rumo ao capão, limpas no corpo salgado de Mar.
sexta-feira, 28 de agosto de 2009
Contramão
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