Vejo a esperança que brilha em teu olhar, pois em tempos disformes, a alvorada, aqui, ainda intocável, se faz afável; uma terra de cor sangrenta e fria que se torna generosa com bom o trato. Não vejo ‘o porquê’ das lamurias. Convêm que em época de colheita, façamo-la com alegria, então, sorrirá o negro, sorrirá o palhaço, a mulher sem dentes, o branco, o homem de poucas vestes. Satisfaz-me ver o povo de tuas posses em festa, mesmo que, eu, em desalento e lacrimejante, plante em pouco espaço, apenas a fim de comer.
E, é fato em meus delírios não estranho quem deita vazio para não dormir. A seca maltrata os batedores de estaca que comigo batalham de sol a sol. Já não suportam mais erguer paredes que não represam as ventanias matadeiras das colheitas para nossos filhos.
Aguardamos esperançosos a chegada de todos santos. Sem hesitar, nos ofertamos junto as iguarias de nosso reino. Pedimos por chuva, não desejamos a mão plantadora, por boa ventura, desta temos de sobra. Queremos o desgasto da esperança, a vingança na desolação dos minutos ténues. E considerando a razão uma semente para o espírito, evocamos entidades férteis para que toquem nosso solo e desatem o crescer das videiras, do arroz e do feijão, do pasto. E, assim, resplandecerá o brio dos teus olhos dourados.
Mas, se falecer o teu louvor, com os olhos avermelhados pela poeira que se ergue no vento seco que bate de lá e cá, subindo em redemoinhos, rolando pelas areias, pelas estradas, e rolando em mim, eis um indicativo do vil encanto, em uma espera por novos santos, para que alguns outros ergam suas fornalhas de barro e tijolos quebrados, restos mortais de casas velhas, abrigos para João Ninguém que esperam na tua luz um fomento para a terra sem destino.
E, eis que todos deverão, no sol, ver um santo, um milagre como aquele de tempos atrás, o último ocorrido por essas bandas, onde um homem em sua morte se espalhou como o Sr da Boa Luz, ainda que em vida, tenha demonstrado poucas virtudes. Deveras foi o real avesso da bondade, um Sr. de letras maiúsculas no nome, e de Boa Luz apenas carregara o sobrenome, pois era rude com seus subjugados, avarento, tornou-se escravo de ouro que jamais teve em tamanha abundancia ao seus sonhos. E, por isso, ou por outros, que venho, ele, a se tornar sua própria morte. E de tão forte fora o seu desejo em vida, que das fendas rasgadas nos punhos nascia ouro, um ouro que incandescia em seu corpo e corria em meio a uma madrugada que se dourava, e se dobrava, até que alvorecer revelasse os dois sóis de esperança que vejo no teu olhar.
sexta-feira, 11 de setembro de 2009
Luz
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