Quando um homem bate em uma mulher, gritamos: “Covarde”, e nos da qualquer ternura ou dó pela mulher, mas alguém já pensou, plenamente, nisso? E se fosse CARNAVAL?
Um homem bate em uma mulher
Fabiano, o homem. Márcia, a mulher, e não bastando a bofetada para derrubar Márcia pelo barranco de beira de estrada, Fabiano ainda seguiu-a pela queda e a golpeou com um facão até que não escutasse um só grito, mais.
Nessa hora não pensaria, ele, em mãe ou pai, Fabiano apenas envaidecia-se com o sangue que respingava em si como quem se pinta para o carnaval. Olhando Márcia, sem saber que aquela era Márcia, aquele homem sentiria que em fim a vida lhe dava algo: a tinta rubro soturna de uma moça que oferecia seu primeiro sangue, na beira de uma via federal, em troca de uma carona.
Após, ter o sangue prometido pela moça, já cansado, Fabiano se recompôs, carregou Márcia para dentro de seu caminhão, depois lavou o rosto com água dando fim àquela fantasia carnavalesca, ainda que desejasse profundamente um gole de pinga pura que pudesse lavar sua alma.
Sem beber, e pensar no que havia acontecido consigo, Fabiano parou na primeira Polícia Rodoviária e relatou o ocorrido aos guardas, ele confessou ter matado a moça sem o menor desejo, mas sim com a amargura de quem nunca se pintou como um folião.
quarta-feira, 30 de dezembro de 2009
CARNAVAL
sexta-feira, 11 de setembro de 2009
Luz
Vejo a esperança que brilha em teu olhar, pois em tempos disformes, a alvorada, aqui, ainda intocável, se faz afável; uma terra de cor sangrenta e fria que se torna generosa com bom o trato. Não vejo ‘o porquê’ das lamurias. Convêm que em época de colheita, façamo-la com alegria, então, sorrirá o negro, sorrirá o palhaço, a mulher sem dentes, o branco, o homem de poucas vestes. Satisfaz-me ver o povo de tuas posses em festa, mesmo que, eu, em desalento e lacrimejante, plante em pouco espaço, apenas a fim de comer.
E, é fato em meus delírios não estranho quem deita vazio para não dormir. A seca maltrata os batedores de estaca que comigo batalham de sol a sol. Já não suportam mais erguer paredes que não represam as ventanias matadeiras das colheitas para nossos filhos.
Aguardamos esperançosos a chegada de todos santos. Sem hesitar, nos ofertamos junto as iguarias de nosso reino. Pedimos por chuva, não desejamos a mão plantadora, por boa ventura, desta temos de sobra. Queremos o desgasto da esperança, a vingança na desolação dos minutos ténues. E considerando a razão uma semente para o espírito, evocamos entidades férteis para que toquem nosso solo e desatem o crescer das videiras, do arroz e do feijão, do pasto. E, assim, resplandecerá o brio dos teus olhos dourados.
Mas, se falecer o teu louvor, com os olhos avermelhados pela poeira que se ergue no vento seco que bate de lá e cá, subindo em redemoinhos, rolando pelas areias, pelas estradas, e rolando em mim, eis um indicativo do vil encanto, em uma espera por novos santos, para que alguns outros ergam suas fornalhas de barro e tijolos quebrados, restos mortais de casas velhas, abrigos para João Ninguém que esperam na tua luz um fomento para a terra sem destino.
E, eis que todos deverão, no sol, ver um santo, um milagre como aquele de tempos atrás, o último ocorrido por essas bandas, onde um homem em sua morte se espalhou como o Sr da Boa Luz, ainda que em vida, tenha demonstrado poucas virtudes. Deveras foi o real avesso da bondade, um Sr. de letras maiúsculas no nome, e de Boa Luz apenas carregara o sobrenome, pois era rude com seus subjugados, avarento, tornou-se escravo de ouro que jamais teve em tamanha abundancia ao seus sonhos. E, por isso, ou por outros, que venho, ele, a se tornar sua própria morte. E de tão forte fora o seu desejo em vida, que das fendas rasgadas nos punhos nascia ouro, um ouro que incandescia em seu corpo e corria em meio a uma madrugada que se dourava, e se dobrava, até que alvorecer revelasse os dois sóis de esperança que vejo no teu olhar.
sexta-feira, 28 de agosto de 2009
Contramão
Se essas mãos, antes bravas trabalhadeiras, tintadas de carvão e unhas de barro ainda erguessem o copo de pinga nas quitandas da beira de estrada, elas ainda seriam mal lavadas na pinguela e passariam afagantes pelos cabelos das crianças pés de calços.
E se essas mãos ainda se escondessem na beira da lagoa, debaixo da figueira, antes da pesca do fim tarde, para pensar nas mulheres que passam pela estrada rumo ao capão, de vez em quando elas seriam fisgadas no descuido com o anzol.
E se ainda houvesse a pinga, os amigos e os bailes, essas mãos acompanhariam no teclado um Zé, o Zé da Gaita, do mel e das abelhas. O Zé amigo de todos, Zé das mulheres, o Zé nariz, companheiro de noitadas.
Mas, se essas mãos ainda encontrassem nas conversas com os mais velhos o mate, elas se aproximariam do ouvido fingindo limpar a cera que atrapalha a história, só para escutar mais de perto, fazendo concha, o que o Batista falava do morto Chico Canoa, que de resto, deixou só a Canoa sem remos.
Pois essas mãos que foram abrideiras de terra nas plantações, que já plantaram gente e cachorra nesse chão onde só deu cana, não gostavam do melado do pé de moleque por se habituarem a mergulhar no bagaço da cana que as amargava.
Mãos sujas, bravas trabalhadeiras que não se encontravam a muito tempo, nem para se erguerem aos céus, nem para tocarem o chão, unidas às mãos de Marisa partiram rumo ao capão, limpas no corpo salgado de Mar.
sexta-feira, 31 de julho de 2009
Guerra de jambolão
Todo dia passa moleque correndo ai, de um lado pro outro, gritando, pulando, gingando, sempre com jambolão na mão. E tem sempre uns jogados no chão.
O meu mais novo passou aqui na frente subindo com monte de jambolão na mão, eu gritei para ele voltar, mas o moleque que corria atrás dele me jogou um jambolão e o veado do Dudu nem para se virar e grudar um jambolão na testa do filho da puta que me tentou me acertar, eu me abaixei e o jambolão pegou na parede atrás de mim, ficou a marca lá, ate ai tudo bem, só que quando me levantei e espiei de mansinho pela janela, vi meu Dudu no chão com uma marca de jambolão nas costas.
É bem isso, todo dia essa molecada correndo, e quem passa tem que dar um jeito de escapar, tem que correr, gingar, se esconder, ou então não pode sair de casa mesmo, e ainda assim, volta e meia um jambolão entra perdido pela janela e pega alguém. Aqui em casa, tem marca de jambolão por tudo, nas paredes, no muro da frente, nas portas, nas janelas. Só que os homem não ta nem ai pro Jambolão. Eu já falei que tem que cortar aquele pé no alto do morro, esses monte jambolão ta vindo de lá, alguém tem que dar fim nesse tal de Jambolão, tem que derrubar mesmo. Eu sempre disse pros meus meninos ficarem longe desse Jambolão, mas não adianta, ta vendo o meu mais novo, é a terceira camisa que eu perco e não posso fazer nada, mancha de jambolão não tem volta. Basta uma só.
segunda-feira, 27 de julho de 2009
AMAR
Jamais fingi ser o que não sou, exceto nas noites em que busquei um novo amor. Inventei alguns personagens, alguns lugares e, até encenei algumas lagrimas.
Admito total culpa depois de acordar com meus pés entrelaçados aos deles. Antes de sair, a verdade jamais me permitiu um beijo de despedida.
Fiz a vida rubra e evitei os entardeceres que se apressavam a chegar. Rasguei a unha a seda flor de luxo que cobria os corpos de meus amados, mas coube meus lençóis guardar e misturar os cheiros dos tantos que amei.
Nunca me arrependi dos amores que inventei, nem mesmo quando me deitei só, com o corpo febril e sem nenhum de meus amados. Na verdade finjo não saber da condiçao soro positivo que me acompanha, mas eu jamais fingi ser o que não sou.
sábado, 6 de junho de 2009
Barão de Pouca Luz
que acontece a festança do Barão de Pouca Luz
Já me disseram que quando bate poeira
pego fogo tem zoeira
não é ouro mais reluz
O circo pegando fogo
sexta-feira, 5 de junho de 2009
Salve, Rainha
Salve, Rainha,
Mãe misericordiosa,
Não rejeite um pobre filho
Oh! Minha rainha
A vós brandamos os degregados filhos de Eva.
A vós suspiramos, gemendo e chorando
neste vale de lágrimas.
Peço de filho por um outro filho
Eias pois, advogada nossa,
Peço chorando por um outro filho
esses vossos olhos misericordiosos a nós volvei,
É mais um filho
e depois deste desterro mostrai-nos Jesus,
Teu filho
bendito fruto de vosso ventre,
ó clemente,
ó piedosa,
Meu filho
ó doce sempre Virgem Maria.
Peço por mais um filho teu
Rogais por nós Santa Mãe de Deus.
Para que sejamos dignos das promessas de Cristo.
Não rejeite um pobre filho
Oh! Minha rainha
Salve o fruto em nosso ventre
Amém.
quinta-feira, 29 de janeiro de 2009
A escolha dela
O vale das sombras e das almas estão sendo destruídos
as casas estão frias
e a escuridão permanece viva apenas num pequeno canto da cidade
as garrafas estão todas vazias,
nossos olhos fechados
eles quase podem sentir dor
a pele seca e branca provoca desejo em quem anda pela rua
o silêncio dos lábios gelados
parece seduzir
então o prazer explode como se fosse uma overdose
o vale das almas me recebe
e o vale das sombras me espera
sábado, 17 de janeiro de 2009
Violenta
Suitivo
terça-feira, 13 de janeiro de 2009
Desequilibrio
Nasce sem saber nada. Então, chega um ponto em que aprende a errar, o erro o seduz mais do que o acerto.Nessa hora, se senta como uma criança no meio fio sem rua e nem calçada.De um lado o infinito vazio, e do outro nada que negue o lado lá. Agora já não sabe o que aprendeu. Tem a vertigem da insegurança de quem deita, e nada que o mostre o contrário ao levantar. Ao fim, ainda no meio fio, não sabe coisa alguma, depois cai para o lado que o desequilíbrio adivinhar.
Mãe
elas estão no jardim
tocando pedras para o alto
e esperando que caiam como algodões
Mãe
não sei ao certo
ou elas se libertaram
ou nos que estamos trancados
em suas salas coloridas
Então
não sei ao certo
mas elas estão como o coração na mão
mastigado ou enfiado no estômago
Então
não somos cegos
trocamos tudo que é incerto
Entre o pó, o amor e a morte
Ontem, meu amor me contou que me quer morto
contou baixinho em meu ouvido que estou no caminho errado
disse que preciso mudar
parar de gritar
Então, todo homem tem tempo para morrer,
mas nem sempre tempo para matar
Um demônio me engole antes mesmo da derradeira partida
E o fogo que queima não é o do inferno, mas sim o da paixão
Sinto que posso morrer
Quero a dor da queimada
mas espero a poeira espalhar-se
alucinando-me e acalmando-me
Meu amor me contou baixinho que estou errado
Disse que já não há mais paixão
com a poeira se que espalha
e carrega um veneno
que queima
Meu amor me contou que não posso mais ouvir
meu amor falando baixo que me quer morto,
que estou errado, ferido e frio, frio, frio...